Como você, profissional da educação, pode aproveitar o dia da Consciência Negra para introduzir uma educação antirracista na educação infantil?
A formação cidadã e coletiva do ser humano vai além das quatro paredes da sala de aula. É preciso relembrar a história para não repeti-la; é necessário moldar seres pensantes para construírem novas realidades. O papel do Educador Inclusivo vai além de uma especialização sólida: é responsabilidade!
Continue a leitura deste texto e entenda a urgência da Educação Inclusiva Antirracista e como você, professor(a), pode falar sobre a Consciência Negra.
Relembrando a história
O dia 20 de novembro é marcado como o Dia da Consciência Negra. A data faz referência ao dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1965, e representa as conquistas e lutas pelo fim do racismo estrutural no Brasil.
Foram quase 350 anos de escravidão, tráfico de pessoas negras, exploração de mulheres pretas e desrespeito que, infelizmente, espelham a realidade contemporânea com uma desigualdade social enraizada.
Com muita luta, a data é feriado em alguns estados, como Rio de Janeiro, Mato Grosso e São Paulo, mas coloca em debate a falta ainda de conscientização de outros locais, como os estados da Região Sul do Brasil, que contam também com representatividade, mas pouca consciência o suficiente para ser um dia de reflexão.
Nesse sentido, a Educação Inclusiva vem para somar com a reflexão, sendo feriado ou não. Afinal, a luta começa desde cedo, conscientizando desde os mais pequenos a serem cidadãos que pensam no coletivo e, especialmente, com consciência de colorismo, classe e privilégios ou não.
“A professora, o professor, é um portal que une as memórias e os conhecimentos do mundo antigo à construção do mundo que está por vir (…)” – Como ser um educador antirracista de Bárbara Carine.
De acordo com o IBGE, a população negra representava 56% dos brasileiros em 2020, mas com uma taxa de desemprego acima do esperado e com uma renda média e acesso aos serviços básicos abaixo do necessário.
Por isso e muito mais que a comunidade escolar deve aplicar a Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena no Ensino Fundamental e Médio em todo o Brasil.
Educação Inclusiva
Nesse cenário, chega a Educação Inclusiva como uma modalidade de ensino mais contemporânea e efetiva de promover o acesso à educação, promovendo inclusão e respeito.
No geral, o maior objetivo é promover a igualdade de oportunidades e valorização das diferenças humanas: diversidade étnica, cultural, social, intelectual, física, sensorial e de gênero.
Sendo assim, a adaptação passa por várias esferas, como políticas públicas, gestão escolar e envolvimento de toda a comunidade, com revisão de estratégias pedagógicas, treinamentos e capacitações complementares.
Se você ficou interessado em se atualizar sobre as diretrizes da Educação Inclusiva, não deixe de ler também este material de apoio.
O impacto da falta da Educação Inclusiva Antirracista
O Núcleo de Pesquisa do Instituto de Ciências pela Infância (NCPI) realizou uma pesquisa em 2021 que mostra o efeito do racismo estrutural em crianças negras brasileiras com até seis anos. Foi constatado que:
- O racismo impacta significativamente o desenvolvimento infantil;
- Altera a autopercepção e autoconfiança destas crianças;
- Problemas na saúde física e mental;
- Desafios para desenvolver habilidades e conhecimentos;
- Dificuldade na socialização do aprendizado;
- E outros fatores enraizados, como a falta de moradia adequada, saneamento básico e etc.
Como o professor(a) pode falar sobre Consciência Negra
Desde já, é importante que o profissional tenha consciência do seu lugar de fala e, inicialmente, reflita sobre toda a história e os desafios culturais enraizados. Seja sobre privilégios brancos, cotas e políticas públicas, o professor(a) deve identificar pontos chaves de debate para estruturar o seu trabalho sobre Educação Inclusiva Antirracista.
Nesse sentido, fica claro que estudantes devem se conectar e interagir com as diferentes identidades dentro e fora de sala de aula para também entender que desafios estruturais são estes. A partir da consciência de classe, cor, gênero e etc, a troca de ideias fica ainda mais construtiva e interessante para a comunidade escolar.
Discriminação racial, exclusão social e desvalorização do ser humano são alguns dos pontos a serem trabalhados, entre tantos que ainda temos pela frente. Para se ter uma ideia de como desenvolver este trabalho, os pesquisadores Booth e Ainscow, em 2012, elencaram uma série de princípios que direcionam para a inclusão. São eles:
- Participação;
- Cooperação;
- Igualdade;
- Comunidade;
- Respeito pela diversidade;
- Sustentabilidade.
Pistas sobre uma Educação Antirracista no chão da escola
Até aqui, relembramos a história, a discrepância entre estados e como podemos começar a falar sobre Consciência Negra para uma Educação Inclusiva.
No início deste mês de novembro para a Consciência Negra, recebemos na Semana Acadêmica da Faculdade Famart a pesquisadora, artista e educadora Michelle Pereira Soares que nos trouxe pistas sobre esta Educação Antirracista.
Para ela, existem três pilares na formação do ser humano: “educação, arte e esporte” e, nesse sentido, este trabalho pode se basear nestas áreas, levando os alunos para uma formação cidadã voltada ao coletivo.
Aplicações que podem ser realizadas:
- Rodas de conversa;
- Feira de Ciência e Apresentações;
- Leituras coletivas.
Todavia, estas são só algumas das aplicações elencadas por Michelle em sua conversa com os professores, mas é interessante observar ainda a construção que a pesquisadora se propôs a fazer para chegar nestas pistas, onde ela pôde se encontrar e reencontrar enquanto mulher negra educadora e formadora de seres pensantes. Vale a pena conferir!
Outras pistas para uma Educação Antirracista
Para incluir este tema em sala de aula, o professor(a) pode desenvolver também a representatividade no plano de ensino, incluindo, por exemplo, citações de figuras importantes do passado e da contemporaneidade, acontecimentos relevantes da história afro, recursos pedagógicos para ver, ler e ouvir e, com grande espaço, momentos de escuta para pessoas que têm este lugar de fala em qualquer nível da comunidade escolar: pais, professores, alunos e etc.
Além disso, desenvolver a empatia e o respeito devem ser premissas fundamentais. Contemplar particularidades sociais e individuais de cada ser pensante deve ser também realizada e atendida, estimulando valores éticos e morais que vão ao encontro da Educação Inclusiva.
Na prática
- Quando falamos em citações de figuras importantes do passado, pode-se trazer para dentro da sala de aula a história de Zumbi dos Palmares, mostrando o motivo da data;
- Já sobre recursos pedagógicos para ver, é possível apresentar filmes didáticos, como a animação “Hair Love”, que levou um Oscar em 2020;
- Para ler, existem muitos livros, poemas e contos que trazem à tona a cultura afro, como “Zumbi, o pequeno guerreiro”;
- E para ouvir, nada melhor do que as crianças aprenderem sobre os sons da África com instrumentos típicos desta cultura: berimbau, tambores e etc. Para isso, pode-se apresentar músicas, cantores e clipes musicais, auxiliando a identificarem a particularidade de cada sonância;
- Pensando em arte manual, temos inúmeras possibilidades: desde construção de uma máscara africana com tintas e papelões, valorização dos cabelos afros com desenhos, construções com botões, lãs e outros materiais didáticos e pinturas de folhas especiais, que evidenciam em imagem práticas como a capoeira, cabelos trançados, crianças felizes e personalidades influentes, como Elza Soares.
Conclusão
Não deixe de abraçar esta grande oportunidade de transformar junto conosco a educação. Esta é a nossa paixão e, com certeza, a sua também. Educar com afeto, promover a solidariedade, convívio social para e com as diferenças, autoconfiança, fortalecimento de conexões e justiça social, a partir da Educação Inclusiva Antirracista, formam cidadãos conscientes.
Embarque nesta jornada conosco e seja um agente de transformação!
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